Selecionada pelas DASartes entre os finalistas do concurso Garimpo 2017, a artista tem na mistura entre técnicas artísticas e registro científico um método para criar imagens de sedutora poesia.
Com colagens, sobreposições de imagens de imagens diversas, desenhos a nanquim e pintura em aquarela, Patricia rearranja elementos coletados no acervo já saturado de imagens da fauna e da flora, propondo associações inusitadas. O resultado é um repertório singular de seres estranhos que habitam um território onde as fronteiras entre os mundos animal e vegetal, orgânico e inorgânico deixam de existir. “Crio espécimes de um futuro mundo pós-humano. Híbridos entre o mundo animal, vegetal, mineral e artificial (como objetos descartados pela indústria do consumo).”
O rigor descritivo do desenho e a delicadeza das imagens remetem a ilustrações botânicas. Alguns recortes e desenhos são apresentados em caixas, suspensos do fundo por alfinetes entomológicos, seguindo o formato das tradicionais coleções biológicas de insetos. Os nomes dos trabalhos também parecem retirados de livros científicos – “lâmina”, “fisiologia cardo”, “mutações cardo”, “meios de cultura”, “genes”, “germinação”, “mutante hospedeiro” e “abelha transgênica”. Mas o que inicialmente pode parecer uma descrição do mundo empírico se mostra na verdade a criação de um mundo fantástico, permeado por seres fictícios, tipos mutantes e monstruosos que parecem saídos de um futuro do qual já temos indícios.
“À primeira vista, meus trabalhos sugerem estudos científicos, mas basta um olhar mais atento para perceber que nada faz sentido. Seria como tentar racionalizar o fantástico”, conta a artista. A sedução provocada pela beleza das imagens convive com o estranhamento causado pelos detalhes bizarros da composição. As criaturas híbridas de Patricia desafiam o impulso taxonômico da biologia que organiza os seres em gavetas classificatórias, mostrando que, em um cenário onde os processos de hibridação se intensificaram cada vez mais, nossas etiquetas nominativas se tornam obsoletas.
Elisa Maia
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Matéria no site da revista DAS Artes